segunda-feira, 30 de maio de 2016

30 anos e ainda quero ser Sindbad...


Sinbad foi uma ícone da minha infância, símbolo de liberdade e aventura ele era tudo o que eu queria ser ser: naufrago, viajante, navegante, desbravador de mundos desconhecidos!

Em suas viagens ele se mete em mil e uma confusões, aporta em uma ilha que na verdade é uma baleia, acende uma fogueira perde tudo... Ganha tudo no próximo porto... Cavalga em cavalos feitos de minerais preciosos, encontra cidades incríveis... Ganha tudo... Perde tudo... Cai em um ninho estranho, testemunha a morte e nascimento da Fênix... Voa, nada... ganha... perde... Aventura... Desbrava.... 

Quando eu lia o livro eu era Simbad, Sindbad, quando eu terminava queria ser e então voltava a ler... Voraz, desorganizada, pouco cuidadosa o livro derreteu em minhas mãos com os anos e recentemente adquiri uma edição nova, brilhante... mas ler essa edição me trás a sensação de sempre.

Hoje completo 30 anos no dia 30, um evento único, não podia deixar de tirar um pouco das teias de aranha desse blog e registrar o fato absurdo de que aos 30 anos ainda quero ser Sindbad, ainda quero acampar numa ilha que é uma baleia, cavalgar cavalos misticos, encontrar cidades encantadas, ver a Fênix morrer e renascer... voar... perder... ganhar tudo de novo e no fim não terminar... no fim sentar e contar minhas histórias... Eternizar minha vida em letras.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Show de Horrores, Teatro dos Absurdos!

Só queria mesmo registrar o quando contemplei absurdada a votação de ontem pela continuidade do processo do impeachment da presidenta Dilma. Em meus quase 30 anos nunca vi tanta fanfarronice, me pergunto se as pessoas de 40, 50, 60 já viram algo igual!

Nossos deputados deram um show de ridículo público, pareciam órfãos do "Xou da Xuxa" ansiosos por aproveitar seus segundos diante da câmera para mandar beijo "Para o meu pai, minha mãe e para você Xuxa", sem consciência alguma de limites e educação. Jamais pensei ser possível dizer isso, porém é fato, nossos deputados me fazem ressignificar minhas opiniões acerca dos 6º anos e sua falta de disciplina, paciência de ouvir o outro e zueira sem fim.

Perto dos deputados brasileiros os 6º anos são santificados, pode beatificar, afinal qualquer bagunça generalizada criada por eles tem o atenuante de serem pessoas com pouco mais de uma década de vida, o que nossos deputados tem como atenuante? As 1, 2, 3 e até 4 décadas de mandato anunciadas por eles mesmos ao microfone ontem? Aliás, me pego pensando se legar ao PT a responsabilidade ultima do afogamento do Brasil em uma crise politica e moral é coerente com aquela realidade transmitida nas TVs abertas do país.

Pela dialética, clareza de papeis, comprometimento com os assuntos públicos, lisura e seriedade demostrada publicamente ontem por nossos deputados, as pessoas que vão as ruas em prol do impeachment realmente acham que o problema máximo e ultimo do Brasil é a atual presidente? Seria ela uma monarca absolutista a ser deposta uma vez que seu mandato é vitalício e todo poder e decisões a respeito de assuntos públicos emanam dela?!?!?

É verdade mesmo que as pessoas ciosas por lisura, honestidade, clareza de papel no serviço público e defesa de um Estado Democrático por Direito saíram as ruas para comemorar o Sim dado por aqueles senhores diante de um personagem como Eduardo Cunha??? É verdade mesmo que as pessoas esperam que saindo Dilma as coisas melhorarão??? Que depois dela, sairá em efeito domino Temer, Cunha, quem mais tiver de corrupto em Brasilia e a crise moral e politica encontrará por fim seu fim? Alguém acredita mesmo que aqueles fanfarrões despudorados tem interesse em algo além deles mesmos?

E não! Eu nunca fui uma entusiasta do governo do PT, eles não são exemplos de correção e lisura. Lula nunca emergiu como um potencial salvador da pátria e Dilma, apesar da ausência gritante de provas diretas contra ela até a manhã do dia 18 de Abril de 2016, pode muito bem não ser santa. Tenho consciência disso, esse blog não é piquete de defesa de políticos. Mas, sendo um caderno de notas e impressões, não pode deixar de conter um registro meus sentimentos hoje.

Bem, vou ficando por aqui, minha ressaca moral não conhece limites e para quem só queria registrar seu absurdamento já escrevi demais e o ar da segunda-feira nunca foi tão limpo, vou lá aproveita-lo.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Eu e meu blog


Na primeira postagem escrita nesse blog usei os versos de Fernando Pessoa:

"Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada."

Escolhi esse texto pois era meu sentimento em relação aquela página em tons de marrom. Ela seria uma janela e tanto me possibilitaria olhar para o mundo externo a mim quanto mostrar o meu universo interno a quem desejasse olha-lo.

Criei o blog porque estava meio completamente atordoada com o fim de um namoro sério com o rapaz com qual pretendia casar e ter filhos... Eu já imaginava como seria meus filhos... e tudo deu errado... e me vi sozinha e enchi o saco de todos com lamurias e queria me lamuriar mais um pouco e sentia vergonha e vi Renato e Júnior criando um blog e quando eles recuaram sentir ter a minha chance.

E sim, troquei todas as  virgulas do paragrafo acima pelo conectivo "e" para dar carga dramática a confissão. #Loka hahaha

Antes de ter um blog costumava jogar online, quando fui escolher um nome para jogar não quis usar Jacilene, meu nome é muito regional, queria algo clássico... E se era clássico tinha que ser algo vindo da Grécia e se viesse da Grécia tinha que ser Pandora. Também flertei com Perséfone, mas algo me fez recuar e eu só descobrir bem depois o motivo, afinal havia outra pessoa com esse nome que iria se tornar muito central na minha vida. A parte isso, experiência de jogar online foi ótima, talvez por isso carreguei para cada canto da virtualidade esse nickname auspicioso.

Meu primeiro ano de blog, 2008, foi meio silencioso, como em tudo na vida a principio sou arredia. Lia muito, escrevia, mas não publicava. Sentia medo das pessoas lerem. Porém, numa bela noite o medo passou, abri as abas da Caixa e tenho deixado as coisas saírem de forma regular ou irregular, aos borbulhões ou as borbulhinhas, depende da hora, da cor e do cheiro.

Esse blog é um caderno de notas pessoais.
Ele é o maior reflexo do meu mundo particular.
É onde mastigo minha história e faço a digestão de minhas experiências boas e más.
É a continuação do habito infantil de escrever diários.
Ele me colocou em contato com pessoas incríveis que se tornaram centrais em minha vida.
Sou apaixonada pela experiência de escrever nele.
Gostaria de escrever com mais frequência, mas abrir os abas da Caixa nem sempre é simples para as Pandoras da vida.
Eu lamento!
Mas estou tentando!

Obrigada a todos e todas que passam por aqui, leem, escrevem algum comentário... Me escutam e falam comigo. Minha vida seria bem menos interessante sem você.

Essa postagem faz parte do "1º Concurso Cultural: Eu e Meu Blog" proposto pela Mi F. Colmán.


segunda-feira, 14 de março de 2016

"Hamlet: Príncipe da Dinamarca" de Shakespeare

Era uma vez uma pessoa mergulhada em um momento de total bad vibe. Passeando pela floresta do alheamento ela decide fazer algo inusitado. Mas, qual seria esse algo?

Passear no parque?
Assisti uma comédia no cinema?
Ir a praia com as amigas?
Nãooooooooooooooooooooooo!
Nada disso!
Isso tudo não convém!
Ela vai ler uma das tragédias mais famosas dos últimos séculos!


Meu desejo de ler "Hamlet: príncipe da Dinamarca" não é recente. Essa edição chegou até mim em 2011 através de uma brincadeira de troca-troca de livros entre blogueiros e quando eu o o Alexandre do #DoQueEuLeio começamos a falar sobre ler algo de Shakespeare foi só unir a sede a vontade de beber.

Apesar de ser uma tragédia, não achei o texto pesado e o final é tão demasiadamente trágico que chega a ser cômico. Varias vezes me coloquei no lugar de uma plateia do século XVI olhando o desenrolar dessa trama e pensando em escanda-los públicos e escondidos das famílias reais europeias e rindo sozinha de mim para mim mesma no meio dos monólogos angustiados e delirantes do Príncipe Hamlet.

Como o titulo do livro anuncia em "Hamlet", Shakespeare nos conta a história de um príncipe melancólico divido a perda precoce do pai e a frustração de ver sua mãe desposar seu tio antes mesmo do fim do período de luto. Somado a esses dois traumas, como se sua melancolia revoltada não fosse suficiente para enlouquecer o vivente, o fantasma de seu pai lhe aparece anunciando uma traição e clamando por vingança.


Como disse Horácio, amigo do Hamlet: "Não sei, mas há algo de pobre no Reino da Dinamarca." e para Hamlet cabe a ele colocar essa podridão em evidência e encontrar para ela um vingança digna de um rei cuja coroa foi indignamente usurpada. Para executar sua vingança nosso herói usa o artificio de "da uma de louco".

Obviamente Hamlet não esperava descobrir com seu ardil o quanto "um homem pode sorrir, sorrir e ser um celerado" não faz nenhum bem. Sua loucura fictícia conduz ele a loucuras concretas, macula o amor dele pela jovem Ofélia, intoxicando a moça com uma loucura real, constrói uma trilha de sangue e tragédia para todos a sua volta.

Apesar do fim arrasador e de realmente ter tido trabalho com a tradução rebuscada de Mario Fondelli e a formatação do texto da coleção "Clássico Econômicos Newton" ter me feito sofrer, adorei a leitura. Furiosamente anotei várias citações das perolas sobre comportamento, sociedade, cultura e politica espalhadas pelo texto de shakespeariano.

Muitas vezes me peguei pensando o quanto foi capcioso escrever, produzir e encenar em um mundo no qual os reis reinavam por “direito divino” uma história na qual a família real era uma verdadeira celerada, fadada ao fracasso por manchas de envenenamento, incesto e traições. Se, nas palavras do próprio autor "um pingo de mal contamina a substancia mais pura", imagine essa quantidade gigantesca de maledicências e crueldades em uma família que advogava para si o titulo de sagrada?

E sim, o autor conhecia muito bem o poder dos atores, como eles influenciam a opinião publica e podem ajudar ou prejudicar caso queiram ou precisem. O próprio Hamlet afirmou: "... os atores são como que o compendio e a crônica do nosso tempo e mais vale que vós tenhais um epitáfio ruim depois de morto do que serdes por eles escarnecidos em vida." (p. 45). Essa passagem é quase uma ameaça, não por acaso os políticos brasileiros proíbem os humoristas de zuar com eles em época de eleição na TV aberta.

Em síntese, não é sem motivos a popularidade da obra de Shakespeare e os muitos estudos sobre ela. Trata-se de um texto rico, com potencial para a reflexão e, mesmo na pior tragédia, com uma dose de comédia. Afinal como não ri diante do dialogo dos coveiros ou do espetáculo de ver um fidalgo e um príncipe se engalfinhando em cima de um caixão diante do Rei e da Rainha?

Apesar da dificuldade com a tradução e a formatação do texto, gostei muito da experiencia de ler Shekespeare. Quero ler muito mais dele, aliás, quero ler TUDO dele.

"Hamlet: príncipe da Dinamarca" contém o monologo mais famoso de todos os tempos, o qual senti necessidade existencial de transcrever por sua genialidade e impacto reflexivo.
"Ser ou não ser... Eis o problema. Será mais nobre suportar as pedradas e as flechadas de uma fortuna cruel, ou pegar em armas contra um mundo de sofrimentos e, resistindo, acabar com eles? Morrer, dormir, nada mais, e com o sono dizer que demos cabo da aflição no coração e das demais enfermidades naturais da carne: consumpção a ser desejada como graça. Morrer, dormir. Dormir? Sonhar, talvez, é este o ponto que nos detém, é a duvida que prolonga por tão largo tempo a vida dos infelizes. Pois quem quereria suportar o chicote e as injúrias do tempo, as injustiças do tirano, as afrontas do orgulhoso, as torturas do amor não correspondido, as demoras da justiça, as insolências do poderoso, os pontapés que o mérito paciente recebe dos indignos, quando ele mesmo poderia alcançar a paz com a mera ajuda da ponta de um punhal? Quem quereria suar e praguejar sob o fardo de uma vida ingrata, não fosse pelo receio das terras incógnitas do além, país do qual ninguém jamais voltou? Eis o que estorva a vontade e nos decide a suportar os males que sofremos, com medo de enfrentarmos outros que não conhecemos. Eis por que as cores vivas da resolução desmaiam no clarão indefinido do pensamento e os projetos de grande alcance e momento perdem o rumo, voltando ao atoleiro da imaginação. Mas... silêncio! Agora a bela Ofélia se aproxima - Ninfa, lembra-te dos meus pecados nas tuas orações." (Shakespeare, "Hamlet: o príncipe da Dinamarca, pg. 48).

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Confissões de ausente...

Hoje pela manhã fui enquadrada pela minha irmã caçula, a personificação intransigente e folgada do meu superego. Segundo ela tenho registrado nas ultimas semanas alto índice de ausência de mim mesma, sendo o fato de que passei horas sentada no sofá olhando para o nada uma evidencia marcante disso.

Honestamente não lembro de ter passado horas olhando para o nada, disse a ela que na verdade estava aproveitando o ventinho do ventilador... Ao que ela respondeu: "Jaci, o ventilador estava desligado!". Minha mãe atestou que o fato ocorreu. E dois dos meus amigos mais próximos endossaram que ando ausente.

Sinceramente, eu não ando ausente, eu ando com sono... Já disse algumas vezes aqui: "Se eu fosse a Bella Adormecida espetaria novamente o dedo na roca de fiar e dormiria mais cem anos.". Acordar é um desafio diário, como sempre.

Mas, admito a existência de alguns casos e situações causadoras de incômodos no meu atual momento. Duas pessoas queridas se foram (o pai de minha amiga e um professor querido) e cada vez mais eu sinto o vazio da ausência de sonhos e objetivos se alastrar no meio da frustração do momento presente.

Realizei muitos sonhos nos últimos 10 anos, mas me sinto frustrada ao constatar onde meus sonhos me levaram. Olho para meu momento presente e penso: "É isso mesmo?".

Não é que não ame a docência, o ensino de história é uma arte instigante. Não é que não ame a educação infantil, trabalhar com a pequena infância é uma experiencia especial e única... não é que não ame os blogs... ou morar com minha família aos 29 anos...

Não é isso,  mas as vezes olho ao redor e sinto que a realização dos meus sonhos não me levou muito longe. E nesses momentos me sinto intimidada e desencorajada a sonhar. Tenho andado sem sonhos nos últimos tempos. Pela primeira vez na vida não sei o que fazer ou em qual desafio me lançar ou onde colocar minhas forças e energias.

Pior: não me sinto encorajada por mim mesma a fazer isso!

Outro dia liguei a televisão ao acasa durante a tarde e uma cena de novela chamou minha atenção. Nela uma mulher indiana conversava com a filha e dizia a ela: "A vida é um grande mercado onde a gente paga o preço das coisas que escolheu viver.". Me peguei fazendo o escrutínio de minhas escolhas nos últimos 10 anos para saber qual delas custou esse momento atual... E me sinto angustiada e culpada em uma dose sem tamanho de tão imensa.

Sinto um vazio enorme nesse momento... Não sei muito bem para onde ir e sinto que meus amigos já se fartaram de me ouvir... Ou sou eu que não sinto mais vontade de contar? Sinto um déjà-vu, parece aquela vez há quase oito anos atrás quando resolvi fazer um blog para escrever sobre as coisas a respeito das quais eu não queria mais falar, mas não podia calar.

Se esse post pareceu confuso até aqui então realmente voltamo ao ponto no qual estávamos em 2008, mas sem "O eu profundo e os outros eus", afinal a Vaneza encaixotou ele e deixou em algum lugar , o qual não lembra e só Deus sabe quando vai tira-lo de lá. Um filho pequeno cria necessidade urgentes capazes de tornar coisas como um velho livro de poesia irrelevante. Eu entendo, só me lembrem de ter mais prudência com empréstimos de livros nos próximos anos.

Gostaria de ser o tipo que vive um dia de cada vez, sem muitos objetivos claros, um dos amigos com o qual compartilhei esse tipo de angústia me disse: "Não vejo problema em viver sem um objetivo. Eu vivo assim e to de boa, quando aparece uma oportunidade é só  agarrar." Até gostei da ideia, mas tenho a impressão que tal pressuposto não foi feito para mim e me pego analisando possibilidades.

Uma amiga me disse: "Faça coisas diferente e você viverá coisas diferentes.". Tenho pensado muito nisso também, analisado as possibilidades, listando coisas não feitas e possíveis: curso, mudança de habito e rotina, investimentos novos de tempo e energia. Só me falta a coragem de transformar essas possibilidades em objetivos/sonhos/desejos.

Não lembro de durante as ultimas semanas ter ficado parada olhando o vazio. Honestamente eu estava mesmo é me esforçando para acordar na hora e ser pontual no trabalho, dar minhas aulas corretamente e envolver meus alunos, ler o máximo possível e fazer minhas refeições. Porém, se realmente fiz isso, é quase certo ter estado envolta nas questões desabafadas nesse texto.

Sentei e escrevi ele na tentativa de encontrar soluções, afinal escrever sempre me ajudou em momentos de crise... Escrevi como forma de lançar à Coragem um sinal de fumaça: "Amiga, estou aqui, venha me visitar. Preciso de você com urgência.".