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sábado, 1 de novembro de 2014

As aventuras de Sindbad, o Terrestre [Desafio Calendário Literário]


Quando encontrei esse livro, há quatro anos atrás, pensei: "Oi, esse titulo não está ligeiramente errado?". Mas, não, o titulo está certo. Sindbad não é nome próprio, é um apelido, significa "homem da China", e não existiu apenas um, e sim dois. Quem leu a história de "Sindbad, o Marujo ou Maritimo" lembra, ela começa quando ele encontra outro homem com o mesmo apelido e o convida para uma reunião para troca de figurinhas.

A história das aventuras dos dois "Homens da China" foram escritas em meados do fim séculos VIII e inicio do IX na região do Iraque. A edição da Martins Fontes conta com introdução e notas explicativas de René R. Khawam e este explica ter sido as histórias do Terrestre e o Marujo duas partes de um obra única escrita pelo mesmo autor. Partilho com Khawam a concepção de que toda história contada funciona é um documento através do qual podemos acessar informações e obter conhecimento sobre o passado e sinceramente não existe um caminho através do qual eu não ame o mundo Árabe de meados da Idade Média.

Enfim, voltando ao livro, nele nós conhecemos o Hasan, nome verdadeiro do personagem, ele é morador da cidade de Al-Basra. Quando o vemos pela primeira vez ele é um rapaz órfão que acabou de diluir uma fortuna significativa. Com uma forte tendencia ao drama, ele é o tipo capaz de tomar decisões tolas e escolher mal suas amizades, no entanto não é um rapaz orgulhoso ou preguiçoso, tem a seu favor uma educação esmerada, graças a sua mãe ele domina a caligrafia, o Corão, a boa linguagem e sabe pedir ajuda quando precisa dela.

Tão logo ele se vê pobre corre atrás de uma amigo ourives, este lhe ensina sua profissão. De órfão gastador Hasan de Al-Basra torna-se o ourives mais requisitado e dedicado da cidade, as pessoas param a porta de sua oficina para observar seu talento. Seu talento é, aliás, o responsável por atrair a atenção do um alquimista Persa que seduz nosso jovem trabalhador a se meter em uma empreitada complicada em busca de enriquecimento fácil. Apesar dos protestos e avisos de sua mãe sensata de Hasan é emocional demais para ceder a tentação de ir atrás do Persa.

Aliás Hasan está bem fora do modelo machista de masculinidade. Ele é emotivo, recita versos quando está feliz ou amargurado, é fiel a uma única mulher, é totalmente capaz de manter amizade e pactos de irmandade com mulheres, sabe pedir por favor, implorar, chorar.

Esqueça-se também o modelo de feminilidade, na história de Hasan as mulheres estão bem distante de donzelas em perigo, muito pelo contrario, elas são princesas guerreiras, soldados, fiscais de alfandega, generais, pessoas independentes, capazes, astutas, manipuladoras quando preciso, capazes de viver sozinhas. Elas são as principais ajudadoras do viajante.

Para se livrar da enrascada na qual se mete quando não segue o conselho de sua sábia mãe, Hasan conta com a ajuda de princesas filhas de Djins que vivem em uma ilha isolada. A mais nova das princesas se move de amor por ele e faz dele seu irmão. Sim, você leu bem, ele encontra moças virgens, solitárias em uma ilha e não as machuca, molesta ou casa com elas, ele vira irmão delas. A irmandade dele com essas moças é um pacto que jamais é quebrado em toda essa história.

É na companhia dessas moças que ele encontra com o amor de sua vida, uma princesa filha de Reis de Djins das Ilhas Waq do Waq [Arquipélago do Japão]. Para conquistar o amor de sua princesa ele conta com a ajuda de sua irmã adotiva e lança mão de artimanhas. Como tudo que vem com estratagemas, na primeira oportunidade sua princesa foge de volta a sua terra com os filhos fruto do matrimonio. A maior aventura de nosso herói consiste em trazer sua esposa e seus filhos de volta para casa.

A busca de Hasan por sua esposa é a melhor parte do livro. Ela coloca em evidencia a diversidade étnica dos territórios pelos quais os muçulmanos transitavam durante os século VIII e IX e das pessoas que se convertiam ao islamismo. Hasan encontra homens e mulheres poderosos, de várias cores e em várias situações de poder diferentes.

"As aventuras de Sindbad, o Terrestre" oferece uma visão privilegiada das fronteiras orientais do mundo Árabe, nos da a saber um pouco de como era a vida além da Europa durante o período medieval. É maravilhoso andar pelas cidades movimentadas, pelos mercados nos quais circulam várias pessoas e objetos de diversas origens diferentes. Foi revigorante encontrar com mulheres empoderas, homens sensíveis a ponto de narrar suas dores em versos de dar inveja a poeta romântico ou poderosos capazes de se sensibilizar com a boa poesia. Tais encontros me fazem crer ainda mais que relações de gênero e modelos de feminilidade e masculinidade não são naturais e sim historicamente construídos.

Ainda quero ser Sindbad, o Marítimo, mas não existe um caminho através do qual eu não ame o emotivo, leal e fiel Hasan.  O Terrestre é um aventureiro sensível e emotivo, corre atrás do amor de sua vida, sua fortuna são seus amigos, amigas, irmãs, esposa e filho, jamais esquece de voltar a casa de sua mãe e, se cruzasse meu caminho, também eu diria

"Quanto a ti, que tua alma esteja satisfeita, que teus olhos enxerguem com limpidez, que teu peito respire livremente, pois tu te tornaste nosso irmão e nós nos tornamos tuas irmãs. Está entendido, entre Deus Altissimo e nós, que doravante nenhum sofrimento poderá atingir-te sem nos atingir também!" ("As aventuras de Sindbad, o Terrestre, pg. 57).
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O "Desafio Calendário Literário" do "Aceita um Leite?"  de agosto foi ler "um clássico da Literatura Fantástica", em meio as minhas angustias existenciais eu me atrasei nas postagens. Mas, é melhor atrasar que não chegar néh gente! Em breve vou postar sobre "Fahrenheit 451" de  Ray Bradbury e "Alice no país das Maravilhas". :)

Esse post faz parte do Desafio Calendário Literário!







domingo, 17 de agosto de 2014

"As crônicas do Gelo e Fogo" ou "Livros com cara de Inverno" [Desafio Calendário Literário]

Seguindo firme e forte pelo caminho do "Desafio Calendário Literário" proposto pelo blog "Aceita um Leite?", Julho foi o mês no qual a lei seria ler um livro no qual o Inverno ocupasse um lugar central. Seguindo firme e forte pelo caminho do relaxamento só agora, no meio de Agosto, eu consegui reunir forças para falar a respeito da minha leitura de de Julho, a saber os volumes 4 e 5 da celebrada e sangrenta série de George R. R. Martin "As crônicas do Gelo e Fogo".


Venho lendo essa série desde 2002, o volume 1 e 2 foram um sopro, uma leitura rápida e agitada durante a qual muitas paixões foram despertadas por meio mundo de personagens. Como  não amar os Starks de Winterfell, Tyrion Lannister, Jon Snow, Daenerys Targaryen e todos os outros? Martin conta sua história de maneira a enfatizar as forças quantos as fragilidades dos personagens, deixando um e outro entrarem e saírem de destaque, mostrando e escondendo o que há por trás dos atos de cada um deles tornando muito difícil para o leitor não se envolver afetivamente com um e com outro. Mas, com o avanço da história, pouco a pouco a parte épica das crônicas vai se perdendo em um oceano de sangue, dor, agonia e mortes horrendas.


Terminar de ler "A tormenta das espadas", vol. 3 da série, foi um tormento enorme e quase desistir do livro. Mas, quando a chuva começou a cair em Recife... Bem, sei lá. Em Recife não existe inverno, aqui é a "Terra do Sempre Verão", um lugar onde no máximo chove e o suave resfriar produzido pela chuva é chamado de frio... e em meio a esse falso inverno o barulho da chuva pareceu me fazer um convite a voltar a esse mundo no qual o Inverno pode ser, e comumente é, fatal.

Foi uma decisão acertada!

A leitura do "O festim dos corvos" se mostrou agradável, o Martim já se tornou um companheiro de caminhada cuja voz e o estilo eu conheço e tenho afeição, adquirir uma quase confiança na capacidade do velho sanguento de me oferecer uma boa história. Amo a forma como ele faz as ideias de Maquiavel, Rousseau e companhia dançarem diante de meus olhos. Gosto também de como ele trabalha com a ciência "História". Como ele prende seus personagem dentro de um limite de veracidade, mesmo quando dialoga com algo como magia, afinal nunca foi consenso que magia, milagres, deuses não existem. E quero casar e ter filhos com Martin quando ele fala sobre a escravidão, o quanto ela é lucrativa, o quanto é complicado abolir a escravidão e o quanto é absurdo esse regime de trabalho do ponto de vista humano.


As pessoas esquecem, ou fingem esquecer, mas o Brasil é um país cujas bases econômicas-sociais-politicas mais antigas foram construídos através da escravidão. O comercio sangrento fez a fortuna de muitos homens e mulheres dos dois lados do Atlântico. A Princesa Izabel perdeu sua coroa quando cedeu aos altos clamores, muito altos mesmo, da população pela Abolição. E nós ainda não nos livramos da escoria que fomentou e se alimentou desse regime de trabalho. Senadores, deputados, ricos proprietários em sua maioria são herdeiros de proprietários, comerciantes e traficantes de escravos. Passaram-se pouco mais de cem anos depois daquele 13 de outubro de 1888 e ainda temos muitos "Sábios Mestres Yunkaitas" a vencer em disputas politicas.

Amei muito e mais ainda ouvir a Dany dizer:
"Escravidão não é o mesmo que chuva. Já tomei chuva, e já fui vendida. Não é o mesmo. Nenhum homem quer ser propriedade de alguém." (George R. R. Martin, A dança dos dragões, p. 243).
Obviamente não posso negar o quanto esse malvado é prolixo. Alguns autores escrevem de forma a não deixar nem uma pobre virgula sobrando, Martin deixa o alfabeto latino, árabe, japonês e chines inteiros junto com todo os sistemas de pontuação já inventados sobrando, se espremer todas as palavras que ele deixa sobrar de cada livro da para escrever mais dois. Bem, eu sei, sou a ultima pessoa que devia criticar isso no mundo, em meus posts reina a prolixidade, mas quem resiste a uma dose de veneno?!?!? hsuausah

Eu tenho vontade de comentar a respeito dos eventos de "O festim dos Corvos" e da "A Dança dos Dragões", mas eu não sou uma mega blogueira que escreve para milhares de pessoas no mundo, metade das pessoas que leem meu blog ignoram lindamente a obra de Martin a outra acompanha apenas a série da HBO "Games of the thrones" e seria pura sacanagem dar spoilers, então vou ficando por aqui.

Só faço questão de registrar aqui meu amor por Jon Snow, Tyrion e Jayme Lannister, Daenerys Targaryen, Missandei, Brienne de Tarth, Asha Greyjoy, Verme Cinzento (#AmoEsseUm), Sor Barristan Selmy, por Dorne, pelas "Serpentes de Areia" e todo "Povo Livre".
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Esse post faz parte do "Desafio Calendário Literário",
proposto pelo blog "Aceita um leite?".

domingo, 20 de julho de 2014

Terry Pratchett, meu autor favorito [Desafio Calendário Literário]

O tema de junho do "Desafio Calendário Literário" do "Aceita um leite?" foi um livro de seu autor favorito, eu estou atrasadinha com as postagens, mas hoje é o dia. Vamos lá!

Quem me conhece sabe, tirando Fernando Pessoa, não tenho um autor favorito, eu tenho vários autores e autoras favoritos(as). Cada época da minha vida foi povoada por um autor ou autora favorito e atualmente, ou melhor, nos ultimo 8 anos, Terry Pratchett tem ocupado esse posto com uma convicção e garra nunca antes visto na história desse país.


Há quem pense que meu autor favorito é o Gaiman ou a Jane Austen. De fato eu gosto muito do Gaiman, ele é mistico, lirico, romântico, poético, mas nadica de nada de irônico, sarcástico e dado a trolagens. A Jane Austen é minha autora favorita, ela é perfeita, mas decidi falar do Pratchett, pois apesar de ter muito dele fragmentado por esse blog, nem de longe falei tanto dele quanto falo de Janezinha do meu coração e preciso fazer justiça ao meu amor por ele.

Sir Terence David John Pratchett, é um escritor inglês, mais conhecido pelos seus livros da série Discworld, cujas histórias se passam em um mundo parecido com um disco, localizado em cima de quatro elefantes que por sua vez ficam em cima de uma gigantesca tartaruga a "Grande Atuin".


Discworld é o paraíso para todo o tipo de sátira possível e imaginaria ao mundo real. Começou como uma sátira a histórias de jovens magos super-poderosos e promissores, depois virou uma tiração de onda genial com praticamente tudo que existe. Quem curte "O guia do mochileiro das galaxias" corre o risco de descobrir um paraíso nos livros de Terry Pratchett, porque a avacalhação aqui jamais tem fim.

O livro da série escolhido para ser lido no desafio foi "A cor da Magia", o vol. 1 da Série. Nele começamos a conhecer o Mundo do Disco através da "cidade formada pela orgulhosa Ankh e pela pestilenta Morpork, da qual todas as outras cidades no tempo e no espaço são mero reflexo" e nenhuma outra cidade do mundo da fantasia vai lembrar tanto as cidades reais.

"Os poetas a muito desistiram de tentar descrever a cidade. Os mais espertos disfarçam. Dizem que... bem... talvez ela seja malcheirosa, talvez ela seja superpovoada, talvez ela seja um pouco como o Inferno seria se controlassem o fogo que queima por lá e formassem um curral cheio de vacas com problemas intestinais durante um ano. Mas é preciso admitir que ela é cheia de vida pura, dinâmica e vibrante. E é verdade, apesar de serem os poetas quem dizem isso. E as pessoas que não são poetas dizem: e daí? Os colchões também tendem a ser cheios de vida, mais ninguém escreve odes a eles. Os cidadãos odeiam morar lá e, se são obrigados a mudar para outra cidade por causa do trabalho, por aventura ou, o que é mais comum, para esperar que algum astatuto de limitações expire, não vem a hora de voltar para que possam sentir um pouco mais do prazer de odiar viver lá. Eles colocam adesivos na parte de trás da carroça dizendo: "Ankh-Morpork - Odeia-a ou deixe-a"... (...) Ela sobreviveu a enchentes, incêndios, multidões, revoluções e dragões." (Terry Pratchett, A magia de Holy Wood, p. 12-13)

Ankh-Morpork são separadas/unidas por um rio cuja água é "incrivelmente pura... qualquer água que tivesse passado por tantos rins tinha que ser, de fato, muito pura." .

Qualquer semelhança com Recife é mera... genialidade!

O personagem principal da história é o Mago Rincewind. Ele não é jovem, não sabe nenhum feitiço, aliás foi expulso da Universidade Invisível na qual os magos são formados por ter mexido em um feitiço perigoso. Ou seja, o Rince é um mago covarde, velho e fracassado, além de um pouquinho amoral cujo único talento é ser fluente em várias línguas e se meter em encrenca com uma facilidade horrorosa. #TeamRicewind



A confusão história começa quando o Rinc. encontra com o Duasflor, o primeiro turista a aparecer no Disco vindo de outro mundo. Duasflor é uma criatura totalmente inocente e rica perdida no meio de uma cidade pestilenta, na qual até os ratos sentem cheiro do ouro e correm para ele e vai meter o mago fracassado nas mais loucas e ilarias aventuras.

Eu sou apaixonada "Mundo do Disco", viciada no humor, na forma como o Pratchett dobra a nossa realidade e nos faz ri com ela, como é realista em suas analises e vai direto no ponto. Como o Gaiman ele tem lá seu romantismo, lirismo, roubo descarado do universo do Shakespeare e derivados, mas soma a isso sarcasmo, acidez e é uma delícia. Infelizmente, não faz no Brasil tanto sucesso quanto Gaiman, é ruim achar livros dele, eu tenho alguns, o Kobo me ajuda com tantos outros digitalizados na base do "de fã para fã".


Ah, o Pratchett é amigo do Gaiman e escreveram juntos o divertido e incomodo "Belas Maldições", só indicado para pessoas não-cristãs ou cristãs capazes de ri e ter senso critico com suas próprias crenças. O humor acido do Pratchett e sua visão avacalhada dos deuses sobrepõe-se a visão do Gaiman, um pouquinho mais leve e romântica da coisa toda chamada fé. Segundo Pratchett "uma chave para compreender todas as religiões é que a ideia de diversão para um deus é jogar “Cobras e Escadas” com os degraus oleados." (Terry Pratchett).

Voltando ao Discworld, depois de "A cor da Magia" vieram muitos outros livros, o Disco foi pouco a pouco povoado com vários personagens. Bruxas, pequenos homens [gnomos], heróis, ladrões, Bobos da Corte e por ai vai. De todos os personagens o meu preferido é a Vovó Esmeralda Cera do Tempo, produtora de um dos meus lemas de vida:
"As estrelas não estão nem aí pro que você deseja, a magia não torna as coisas melhores e ninguém deixa de se queimar quando põe a mão no fogo. Se você quiser chegar a algum lugar... tem que aprender três coisas. O que é real, o que não é real e qual a diferença." (Quando as Bruxas Viajam, Vovó Cera do Tempo, p. 145)

Esse post faz parte do desafio:


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P.S.: No finado Orkut, uma das coisas mais legais eram as comunidades voltadas para os fãs do Terry nas quais a gente podia postar nossas frases preferidas do Disco. Eu já pensei mil vezes em abrir um post só para as frases memoráveis de Terry Pratchett, mas fui protelando, então vou aproveitar esse post e deixar algumas frases aqui. A pretensão é ir aumentando a lista gradualmente a medida que eu for relendo os textos, então essa parte do post é tipo leia por sua conta e risco, pode não ser tão interessante.

"se você confiar em si mesma... 
– Sim? –...e acreditar nos seus sonhos... 
– Sim? – ...e seguir a sua estrela... [...] 
– Sim? –...ainda assim vai ser derrotada por pessoas que gastaram o tempo delas dando duro, aprendendo coisas e que não foram tão preguiçosas." (Os pequenos homens livres, Terry Pratchett)

"...cê e sempre como aquela pessoa na festa segurando a bebidinha num canto que num consegue se enturmar. Tem uma pequena partezinha dentro de você que num quer derreter e derramar." (Os pequenos homens livres, Terry Pratchett)

"As pessoas pensam que dão forma às histórias. Na verdade, é o contrário. As histórias existem apesar de seus participantes. Se você sabe disso, esse conhecimento é poder. Histórias, grandes fitas vibrantes de espaço-tempo modelado, agitam-se e desenrolam-se pelo universo desde o início dos tempos. E evoluíram. As mais fracas morreram e as mais fortes sobreviveram, engordando a cada vez que eram recontadas..."(Quando as Bruxas Viajam, Terry Pratchett)

"E assim porque as pessoas são dominadas pela Dúvida. Esse é o motor que as impulsiona ao longo da vida. É o elástico na hélice do aviãozinho de plástico da sua alma, e passam o tempo enrolando-o até dar um nó. " (Quando as bruxas viajam, Terry Pratchett)

"Ela odiava todas as coisas que predestinassem as pessoas, que as fizessem de bobas, que as tornassem pouco menos que humanas." (Quando as Bruxas Viajam, Terry Pratchet).

"A realidade não e digital, algo que se liga e se desliga, mas analógica. Gradual. Em outras palavras, a realidade é uma qualidade que as coisas possuem, da mesma forma como possuem, digamos, peso. Algumas pessoas são mais reais que outras, por exemplo. estima-se que existam apenas cerca de 500 pessoas reais em cada planeta, motivo pelo qual elas vivem se encontrando inesperadamente o tempo todo." (A magia de Holy Wood, Terry Pratchett)

"... com a quantidade certa de cebolas fritas e mostarda, as pessoas comiam qualquer coisa." (A magia de Holy Wood, Terry Pratchett)

"Guarda sempre tinha o cuidado de não intervir muito cedo numa briga, antes de as vantagens ficarem solidamente do seu lado. O emprego oferecia pensão e atraia esse tipo de homem cauteloso e prevenido." (A cor da Magia, Terry Pratchett)

"Pitoresco significava - concluiu ele depois de uma profunda observação dos cenários que inspiravam Duasflor a se valer do termo - que a paisagem era terrivelmente íngreme. Exótico quando usada para descrever os ocasionais vilarejos por que passavam, queria dizer assolado por doenças e caindo aos pedaços. Duasflor era um turista.. Turista, concluiu Rincewind, queria dizer idiota." (A cor da magia, Terry Pratchett)

"O que os heróis mais gostam é deles mesmos." (Terry Pratchett).

sábado, 24 de maio de 2014

Romance Contemporâneo [Desafio Calendário Literário]

No Calendário Literário montado pela Lu Tazinazzo a ordem do mês de Maio é um romance contemporâneo, então lindamente chutei o pal da barraca literária e resolvi mês ler apenas autores atuais ou no minimo que entraram no foco do mercado editorial nessas primeiras décadas do século XXI e foi um dos melhores meses literários dos últimos tempos.

De entrada li os três primeiros livros da série de romances históricos "Os Bridgertons", escritos pela Julia Quinn.


Alguém pode dizer que tais textos não contam como romances contemporâneos pois as histórias se passam no século XIX, no entanto, eu vou ser chata e lembrar uma vez mais que romances históricos, independente da profundidade da pesquisa feita pelo autor, falam muito mais sobre o presente do que sobre o passado e essa regra vale muito para a Julia Quinn.

A autora de “O duque e eu”, “O visconde que me amava” e  “Um perfeito cavalheiro” sabe como construir um texto engraçado, leve, com uma fluidez perfeita e um toque de sensualidade no ponto, sem ser pornográfica. Fica claro o quanto ela é fã de Jane Austen, domina bem o gênero romance histórico e é competente para crescer como autora dentro dele Me tornei fã confessa da Julia, de seus rapazes apaixonados, de suas heroínas cheias de personalidade e sensualidade e do luminoso século XIX inventado por ela.

De saída terminei de ler a trilogia "A Seleção" da Kiera Cass e comecei a ler a trilogia "Estilhaça-me" da Tareheh Mafi, nada mais atual que séries cujo final estão saindo do forno.


Eu tenho inúmeras criticas a história da Kiera Cass, ela negligenciou a distopia e tem um discurso politico extremamente e irritantemente conservador, através do qual parece reafirmar a necessidade de hierarquias sociais. Honestamente considero danosas histórias infanto juvenis carregadas de conservadorismo, esses texto tem, mesmo que não seja a intensão das autoras e autores, um caráter pedagógico para os leitores em formação. Mas, eu precisava ir até o fim com "A Seleção" pois me identifiquei com a protagonista dividida entre dois amores com a capacidade única de falar duas vezes antes de pensar.

Na idade da America passei por uma situação semelhante, a diferença é que eu tinha três pentelhos no meu pé. Pois é, eu também acho um absurdo ter sido uma adolescente de alto-estima tão fragilizada. Brinquei muito ao longo da leitura da série dizendo que, se fosse a America, chutava os Maxon e Aspen e ia lutar com aos rebeldes. É claro que ela não fez isso, algumas pessoas preferem mesmo casar aos 17 anos em vez de ir a universidade, arrumar uma profissão, viajar, escrever um blog, ter sua própria renda mensal.

Eu tenho fama de ser péssima conselheira sentimental, mas ainda assim me sinto tentada a deixar aqui três avisos para a America, e qualquer menina de 17 anos a beira de se comprometer pela vida toda com um homem:
Primeiro: O príncipe pode ser o tipo de pessoa que não lida bem com rejeição e capaz de uma crueldade impressionante;
Segundo: O carinha intoxicantemente bonito, pode se revelar uma pessoa assustadoramente sem senso de limites;
Terceiro: Aquele cara que te jurou amor eterno 5 vezes [eu contei] pode 10 anos depois oscilar entre te olhar com ódio mortal e fingir que não te conhece [ainda não acredito que ele não superou essa história, a namorada dele é muitoooo mais alta, magra e bonita que eu, só não tem tanto busto, não se pode ter tudo.].
Muito mais promissora foi a experiencia de ler "Estilhaça-me" da "Tareheh Mafi". A história desse livro se passa em um futuro no qual os recursos da Terra estão quase totalmente esgotados e há uma ditadura opressora reinando no mundo. Nesse contexto pós-apocalíptico emerge a figura de Juliet, uma moça cuja vida não foi nada fácil até o momento e começa a história presa em manicômio. Ela é aparentemente uma criatura perigosa superpoderosa, capaz de criar uma grande devastação salvar o mundo.

Tareheh Mafi, tem um senso critico penetrante, é envolvente, carismática, possui um lirismo capaz de me fazer vibrar a cada paragrafo. Em um primeiro encontro, simplesmente amei a Juliet, apesar dela ser meio maluquinha, não tenho palavras para o Adan, o seu par romântico nesse primeiro livro.

Ah, se com a America eu me identifiquei de primeira com a Juliet eu fui identificada. No meio da leitura do volume um comentei com uma das minhas estagiarias sobre o "fogo da muléstias dos cachorros" da protagonista, ela ficou curiosa e me pediu para ler o livro. Agora ela tem considerado ser a Juliet parecida comigo e ainda ler trechos do livro para comprovar. Ainda não decidi se essa comparação é boa ou ruim.

E essa foi a minha participação no "Desafio Calendário Literário", do blog "Aceita um leite".


sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Épico Jogos Vorazes [Desafio Calendário Literário]

Vai ser fácil para quem me segue no twitter lembrar o quando me preocupei com a escolha do livro épico para ler em Abril. Para mim não estava claro quais livros se encaixam nesse perfil, nunca tinha refletido sobre o conceito de épico antes. Então, como é de minha natureza, para encontra o conceito travei de mim para comigo uma guerra até chegar a uma decisão razoável sobre o que eu chamaria de épico.

Para começo de história, na minha opinião, para ser épico não basta ao livro abordar um daqueles recortes do passado de um personagem ou civilização sobre o qual existem muitas lendas e poucos documentos; ter magia ou personagens como dragões, anões e elfos; se passar em uma terra localizada em algum outro ponto duvidoso do multiverso; ou ter personagens com nomes impronunciáveis à língua nua.

Cheguei a conclusão que épico é um livro cujo texto, independente do recorte temporal abordado, é capaz de exigir certo comprometimento afetivo. Deve ser escrito por um autor capaz de olhar para a realidade [no passado ou no presente] e explorar seus pontos incômodos com competência e arte, questionando os limites do ser humano. Precisa ter drama, dor, vitórias, derrotas e sangue, pois"ninguém quer saber o gosto do sangue, mas o vermelho ainda é a cor que incita a fome". Por fim, o épico tem que deixar o leito com uma bela ressaca literária.

Me julguem, mas o livro épico de abril foi "Jogos Vorazes" da Suzanne Collins.

Sim, o livro é classificado até mesmo em sua ficha catalográfica como "Literatura Infanto-juvenil" de cinco formas diferente. Mas, eu discordo totalmente dessa classificação.
"1. Sobreviventes - Literatura Infanto-juvenil
2. Programa de Televisão - Literatura Infanto-juvenil
3. Relações Humanas - Literatura Infanto-juvenil
4. Ficção Cientifica - [caso alguém ainda não tenha entendido] Literatura Infanto-juvenil
5. Ficção [alguém advinha o que vem depois] Infanto-juvenil americana."
Certamente a Suzanne Collins construiu um texto com linguagem simples e definitivamente seus personagens são adolescentes, porém a forma como ela aborda questões de sobrevivência, as relações humanas e a influencia da mídia na sociedade do espetáculo em uma trama de ficção cientifica eleva o texto dela a qualquer coisa que exige comprometimento, atenção, envolvimento afetivo e deixa uma ressaca literária de matar em qualquer inocente. O livro é épico da introdução a conclusão!


"Jogos Vorazes" é uma trilogia cuja ação se passa em qualquer lugar do nosso futuro, após alguns desastres naturais e guerra o mundo está divido em 12 distritos e é governado pela Capital de forma ditatorial. Os "jogos vorazes" é um acontecimento anual, um jogo no qual cada um dos 12 distritos oferece um casal de adolescente para competi dentro de uma arena até que só reste um vivo.

Nesse contexto emerge a figura de Katniss Everdeen que vai disputar a 74ª Edição dos Jogos Vorazes de uma forma jamais vista. Katniss é uma caçadora, uma sobrevivente, a morte prematura do seu pai deixou sua mãe arrasada e paralisada, para proteger e garantir a sua sobrevivência e a de sua irmã Primm ela teve pular da adolescência para a faze adulta em tempo recorde. É uma personagem tão real que da medo, conheço várias meninas como ela, me apeguei a ela, torço por ela... Ela coloca no bolso qualquer rei ou rainha de tempos remotos, cavaleiros de távolas redondas ou quadradas, elfos, duendes ou até mesmo hobbits.


Esse post faz parte do Desafio Calendário Literário proposto pelo blog "Aceita um leite?".


domingo, 16 de março de 2014

O oceano no fim do caminho [Desafio Calendário Literário]

Eu estou aqui tentando lembrar em qual mares de literatura li pela primeira vez a frase: "O menino é pai do homem.". Estou tentando resistir a tenção de consultar ao google e força a memória... Mas Deus sabe que quando tudo está a um clique de distancia tudo é mais difícil. Acho que foi Machado de Assis, desconfio que foi em "Memórias Póstumas", quase tenho certeza que no capitulo ele fez desfilar diante de meus olhos absurdados os moldes terríveis da educação das crianças da elite imperial. Mas a certeza mesmo é, independente de quem [onde e com qual propósito] tenha cunhado a expressão, ela me parece ser muito verdadeira agora.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Romances Históricos [Desafio Calendário Literário]

Reza a lenda literária ter o gênero "Romance Histórico" nascido no século XIX e, assim como a própria ciência História, influenciado pelas forças do pensamento positivista, foi um instrumento ideológico usado amplamente para fortalecer os "Estados Nação". Através dele autores como Walter Scott e Alexandre Dumas davam a saber a população leiga certo conhecimento sobre o passado de seus países possibilitando a elas se identificar, construir empatias e até mesmo justificar situações do presente.

Tanto o Walter Scott quando o Dumas são objetos do meu amor, isso não é segredo para ninguém, várias vezes falei de um e de outro nessa caixa.

Alexandre Dumas e Walter Scott

E o romance histórico é um gênero com o qual desde sempre estou apegada, graças a uma grande sorte, um dos primeiros livro que li na vida foi o "Ivanhoé" de Sir Walter Scott [em janeiro de 2011 contei essa história aqui] e desde 2011 o Lord Dumas faz parte de minha vida [em dezembro de 2011 contei essa história aqui]. Assim, nem precisava de Teoria da História para saber o quanto um romance histórico fala mais sobre o presente do que sobre o passado.


Não por acaso o Walter Scott, do Reino Unido no qual até hoje sobrevive uma monarquia, aborda a realeza, a Idade Média e a cavalaria com grande respeito até o ponto de me fazer desejar ter nascido na Idade Média. Enquanto Dumas, em uma França pós-revoluções, republicana [uma França que degolou uma Rainha e vários nobres] tenha para com a realeza um olhar de deboche e critica sempre e constantemente reafirmados até me fazer ter vontade de voltar no tempo sentar com ele para longos papos debochados, falando mal de tudo e de todos.

Mas, vou contar a vocês, apesar de saber o quanto de presente tem no passado dos romances históricos, me dar nos nervos perceber quão pouco os autores de hoje pesquisam sobre o passado para escrever suas histórias, quão pouco se interessam por algo mais além de um romance meloso.

Misericórdia!!! Desse jeito os ossos de Scott e Dumas devem ficar se debatendo em suas tumbas com as danações feitas com o passado pelos autores do nosso presente!!!

As vezes, sabendo o quanto os autores só respondem as demandas do público, eu me pego questionando: "Jesus, será que nós somos mesmo tão fúteis assim?". Nessa horas quase chego a escutar o Todo Poderoso respondendo: "São!".

No entanto, nem toda futilidade na qual mergulha o gênero é capaz de me fazer desgostar dele. Sou louca por um bom romance histórico! Quando Fevereiro chegou e vi meu "Calendário Literário" anunciar a hora de ler o segundo volume de uma série escolhi "A Rainha Estrangulada" de Maurice Druon, volume 2 da Série "Os Reis Malditos".

A Série "Os Reis Malditos" conta alguns capítulos da história da realeza francesa a partir do reinado de Felipe, o belo, lá pelas bandas do século XIII. No fim da Idade Média, esse monarca junto com o ministro Enguerrand de Marigny conseguiu fortalecer o poder central do Rei, deslocou o papado de Roma para Avignon [de onde podia melhor controlar Papa e Cardeais], desmembrou o poder dos senhores feudais, aboliu a servidão, instituiu moeda única para todo o reino, acabou com o direito de guerra dos senhores feudais e por último, mais de crucial importância, destruiu o poder bélico e financeiro da lendária "Ordem dos Templários". Bem, daí imaginem que ele quase não fez inimigos néh?!?!

Phelipe IV, o Belo.
Quando um homem como Felipe IV morre, símbolo de todo um conjunto de políticas econômicas, sociais e culturais, a primeira coisa a ocorrer, quando ele não deixa um sucessor a altura, é um desmembramento de toda a sua obra.

E bem, seu filho, "Luís X", o Turbulento, não fez em vida outra coisa senão destruir a obra de seu pai. Em "A Rainha Estrangulada", Maurice Druon a titulo de contar a respeito das coisas ocorridas após a morte do Rei de Ferro, nos conta também como a oposição uma vez no poder minar a obrar de uma gestão anterior.

Sou apaixonada por Druon desde o lirico "O menino do dedo verde" e aqui ele não me decepcionou em nada. Como autor experiente que foi, conseguiu construir uma narrativa redonda, na qual a História e a ficção se cruzam e se completam de forma enxuta, sem enrolação e blá... blá... blá... Não há em Druon uma palavra sobrando.

Uma delícia de se ler um texto assim! Nada chato, sem heróis ou vilões, "A rainha estrangulada" nos apresenta um século XIII de homens e mulheres dos mais diversos estratos sociais e culturais, preparados ou não para a felicidade e a tragedia, vivendo e morrendo suas vidas e suas paixões. Druon conseguiu, na minha opinião, equilibrar o romantismo de Walter Scott com a ironia de Dumas e trouxe a luz uma trama deliciosa e, como se isso não fosse suficiente, ainda mostra que para ser bom um autor não precisa escrever verdadeiros calhamaços ou sopas de pedras, "A Rainha Estrangulada" não tem mais 250 páginas.

Esse post faz parte do "Desafio Calendário Literário",
proposto pelo blog "Aceita um leite".


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Meu primeiro encontro com a Distopia [Desafio Calendário Literário]

Uma vez a Dama de Cinzas, disse: "Eu não estou concorrendo ao concurso da coerente do ano!" e eu adorei essa frase. Obviamente ela só poderia ser dita por uma geminiana e nela está contida uma sabedoria que só geminianas entendem. E, cito ela para introduzir a informação de que, depois de tudo, eu resolve abraçar uns desafios para 2014, e o escolhido foi o "Desafio Calendário Literário" proposto pela Lu Tazinazzo do "Aceita um Leite?".

O desafio do calendário literário consiste em ler um livro que corresponda a um tema, o de Janeiro é "Um livro de um gênero nunca lido antes" e para decidi qual seria o livro eleito bastou olhar na minha pilha de livros a serem lidos nas férias e ver o livro "A Seleção" da Kiera Cass.


A Mi, (amiga, minha alma gêmea e parceira no O que tem na nossa estante), me perguntou se eu leria essa trilogia, e como a resposta foi sim, enviou os dois primeiros livros da Kiera para mim em forma de empréstimo. Provavelmente ela tem um plano secreto por trás desse empréstimo #Oremos

Voltando a questão do desafio, a história da Kiera tem sido classificada como um tipo de "distopia adolescente" ou "feita visando o público adolescente" com personagens no máximo pós-adolescentes. Bem, esse é um gênero com o qual ainda não tinha tido nenhum encontro, então, aproveitando a oportunidade, adiantei a fila literária e li "A Seleção" da Kiera Cass.

Anteriormente já tinha lido livros hoje classificados como distopias, os lindos, fofos e inquietantes: "Admirável Mundo Novo" do Aldous Huxley e "1984" do George Orwell. Ambo foram livros capazes de mexer muito com minha cabeça aborrecente e deram uma significativa colaboração para a forma como a pessoa que sou hoje ler e interpreta o mundo e seus acontecimentos.

Capas das edições que li.

Vendo essa grande leva de distopias surgindo no horizonte literário do mundo me perguntei se elas não podiam ter um efeito semelhante. Mas lendo "A seleção" fiquei pensando que os autores de distopias feitas sob medida para adolescentes fazem com o futuro o mesmo que os autores de romance de banca fazem com o passado, ou seja, apenas usam como uma ilustração, uma forma de não colocar a história no presente colocando ela no presente.


Não é que eu não tenha gostado de ler "A Seleção", eu gostei bastante. O livro é bom, é leve, bem escrito, os personagens são cativantes [ao menos a mim cativaram] e o romance tem sido desenvolvido a contento. Me apaixonei pela America, aliás eu me identifiquei muito com ela, uma protagonista responsável, combativa [arengueira pra chuchu], tempestuosa, não esquece de seus irmãos, sabe ser amiga, ama seus pais e briga muito com um deles. O Maxon e o Aspen, rapazes entre os quais ela divide sua afeição me ganharam lindamente, não sei qual dos dois levaria para casa [será que dava para ficar com os dois?]. Se ela brigasse com o pai, fosse baixinha, gordinha e usasse óculos era uma replica minha na idade dela.

A Kiera foi, na minha opinião, competente no quesito construir personagens cativantes capazes de te levar a ler o livro 2 e o 3. Porém, no quesito construção de um futuro para o nosso presente ela não foi nada bem, a história tem muitos furos e é tão rasa a ponto de nas estradas do Brasil existirem poças d´água mais profunda que essa distopia.

Quando você pensa que ela vai problematizar alguma coisa em relação aquele futuro, ela simplesmente da um passo para trás e foca nos problemas românticos da America;  é uma autora quase ingenua na forma de abordar como as sociedades e culturas se constroem e se transformam ao longo do tempo, ou como as pessoas reagem a esses movimentos e transformações; e, por fim, ela nem de longe, muito longe, longe mesmo, flerta com a ficção cientifica, coisa no minimo fundamental para quem constrói uma história no futuro do nosso presente.

Eu estou aqui tentando descobrir o pior: surtar com romances históricos nos quais o passado emerge como um tipo de presente vestido com roupas velhas e sem internet ou distopias nas quais o futuro emerge vestido com roupas mais velhas ainda e também sem internet? E o que esperar do steampunk? Será que vou ter dois troços lendo steampunk? #QuestõesExistenciaisDeLeitora #EstouSendoChata

Comparado com o século XIX e a primeira metade do século XX, na minha opinião, os autores desse inicio de século XXI tem deixado muito a desejar em relação ao dialogo com o passado e o futuro, apesar de temos infinitamente mais recursos tecnológicos e possibilidades de obter informações. Sinceramente [odeio admitir isso], começo a pensar na possibilidade de meu pai está certo quando diz: "Para que carrão se um fusca resolve.". E como diria o Seu Calisto de "O cravo e a rosa": os ossos dos pais da ficção cientifica e da distopia devem está batendo em seus túmulos a cada lançamento desses.

Será que todas são iguais?
Bem, talvez eu esteja sendo precipitada no meu julgamento, talvez deva experimentar mais o gênero, mas, aparte isso, cá está minha participação no "Desafio Calendário Literário de Janeiro, abordando "Um livro de um gênero nunca lido antes" proposto pelo blog "Aceita um leite?"